16
dez

Por Fernando Weigert e Paulo Costa

Não é novidade que o Brasil vive de voos de galinha, alternando entre relativos bons momentos e outros ruins. Vivendo atualmente um ciclo ruim e com o agravante de uma pandemia, os brasileiros sofrem com a inflação alta, mesmo aqueles com renda fixa — como aposentados e pensionistas —,  que veem seu poder de compra diminuir diariamente. Nesse cenário, os empréstimos financeiros aparecem como solução rápida para resolver situações que não podem esperar. De acordo com dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), o número de contratos de consignados solicitados pelos segurados e averbados até o momento é 37.877.912, 1,5% a mais do que em 2020. 

 

Mas se de um lado há bancos e financeiras contribuindo para o equilíbrio da economia e para quem precisa de dinheiro, do outro há um grupo de bandidos que também fingem oferecer uma solução rápida para salvar famílias de uma situação de aperto. A diferença é que, nesse caso, o dinheiro não existe. De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), houve aumento de 60% nas fraudes financeiras, sobretudo contra idosos, durante o período de isolamento da Covid-19, momento em que ocorreu um crescimento exponencial de transações virtuais. Entre as fraudes, o golpe do empréstimo consignado vem crescendo a cada dia e o principal alvo da prática tem sido os aposentados e pensionistas do INSS.

 

A pandemia acelerou um processo de digitalização, que certamente viria aos poucos, mas também facilitou (e de alguma forma potencializou) as ações de golpistas que se especializaram em aplicar golpes de maneira relativamente fácil. No período de isolamento, bancos e financeiras flexibilizaram as maneiras de contratação de empréstimos para que as pessoas, em especial os mais velhos, pudessem fazer a transação de maneira segura. Ainda assim, protocolos de segurança não foram excluídos, como assinatura eletrônica, senha e reconhecimento facial. 

 

Mas os golpistas, enxergando uma brecha, facilitaram ainda mais o processo. Por meio de WhatsApp e outras ferramentas eletrônicas, encontraram uma maneira de se passar por instituições e oferecer soluções rápidas, sem nenhum tipo de entrave, atraindo especialmente pessoas que não tem uma relação próxima com a tecnologia. Os golpes não se restringem somente a indivíduos, mas também às próprias instituições, que relatam invasões de sistema e vazamento de dados. 

 

O prejuízo pode ser milionário para as instituições e o investimento para remediar as ações criminosas é também muito alto. Para se ter uma ideia, no Brasil, as atividades fraudulentas oneram os negócios em até 72%, segundo dados da pesquisa Global Identity and Fraud Report. 

 

Portanto, paradoxalmente, a mesma tecnologia que traz conforto também traz desconfortos causados pelo próprio homem. Hackers e fraudadores também acompanham a evolução digital, o que obriga as empresas a tentarem manter a vanguarda no uso de soluções, a cada dia mais avançadas. Mas então, com tantos dados alarmantes, como se proteger? Como proteger os clientes? 

 

Embora o uso de segurança da informação e de investimentos pesados em tecnologia sejam essenciais, é preciso uma mudança estrutural no país direcionada à educação tecnológica, algo muito mais difícil do que apenas investimento em softwares. Ao todo, 81% da população brasileira é usuária da internet, mas o acesso às diferentes tecnologias é muito desigual, segundo a TIC Domicílios. 

 

Se não olharmos para a realidade do país com mais atenção, os golpistas vão olhar. O resultado disso é a facilidade na hora de enganar as pessoas pedindo senhas, depósitos, se passando por familiares, pedindo números de documentos e uma infinidade de estratégias que vão além de barreiras de proteção técnica. 

 

Esses golpes, que já têm até uma técnica chamada de engenharia social, cresceram 165% no primeiro semestre de 2021, em comparação com o semestre anterior, segundo um levantamento da Febraban.  Alguns dos golpes aplicados registraram um aumento ainda maior. O golpe do falso motoboy, por exemplo, cresceu 271%. Já os registros de falsas centrais telefônicas e falsos funcionários cresceram 62%.

 

Para enfrentarmos esse desafio será necessário um esforço conjunto de bancos, financeiras, prestadores de serviços e meios de comunicação. Precisamos educar os clientes a fim de que fiquem mais atentos e entendam quais ferramentas inescrupulosas estão sendo usadas. Bancos não mandam SMS, não mandam emails, não pedem cópia de documentos, não pedem para que a pessoa informe todos os dados pessoais por telefone. São coisas que no dia a dia parecem óbvias, mas por esquecer do óbvio é que os golpistas triunfam.

 

O caminho é longo, mas é imprescindível para combater práticas tão nefastas que prejudicam, geralmente, as pessoas mais vulneráveis, embora todos estejam sujeitos a cair em golpes, especialmente quando falamos de empréstimo. 

 

Portanto, é preciso estudar e aumentar o controle de riscos nas organizações, blindar-se com todas as barreiras de proteção disponíveis e, acima de tudo, participar ativamente da construção de cidadãos mais conscientes tecnologicamente para que, quando os golpistas tentaram interceder, encontrem não apenas softwares de segurança, mas pessoas preparadas e inteligentes para agir digitalmente da mesma forma que agem presencialmente. 

 

Afinal, se não fornecemos dados a pessoas estranhas na rua, devemos agir da mesma forma no mundo digital.

 

*Paulo Costa é superintendente de TI e Fernando Weigert é diretor da Neoconsig, empresa que desenvolve soluções inovadoras, como a plataforma de gestão de empréstimos consignáveis. 

 



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